O uso das chamadas “canetas de emagrecimento” se popularizou nos últimos meses e passou a fazer parte da rotina de muitas pessoas que buscam perder peso. Em regiões de fronteira, como o Oeste do Paraná, o alerta é ainda maior: cresce o número de pessoas que recorrem a medicamentos importados de forma irregular, sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para esclarecer o tema, o A Hora do Café ouviu a endocrinologista Dra. Simone Basso Locatelli e a cardiologista Dra. Silvia Helena Costa, que explicaram quando essas medicações podem ser usadas, quais são os benefícios comprovados e, principalmente, os riscos do uso indiscriminado.
O que são as chamadas canetas de emagrecimento
Apesar do nome popular, “canetas de emagrecimento” não é o termo médico correto. Segundo as especialistas, tratam-se de medicamentos conhecidos como análogos de GLP-1, que atuam em mecanismos hormonais ligados à fome e à saciedade.
Essas substâncias retardam o esvaziamento do estômago e também agem no cérebro, promovendo sensação de saciedade mais precoce e redução do apetite. Inicialmente, esses medicamentos foram desenvolvidos para o tratamento do diabetes, mas estudos realizados ao longo de mais de 15 anos demonstraram benefícios importantes no tratamento da obesidade e de outras doenças metabólicas.

Foto Sarah Pessoa / Palotina 24 Horas
Medicamentos aprovados pela Anvisa no Brasil
No Brasil, apenas alguns desses medicamentos possuem registro e aprovação da Anvisa para comercialização. Entre eles estão a semaglutida, a tirzepatida e a liraglutida, esta última hoje menos utilizada por apresentar menor impacto na perda de peso.
As médicas alertam que medicamentos vendidos em frascos, seringas ou fora do formato original de caneta não são aprovados no país, o que impede qualquer garantia sobre composição, dosagem, eficácia e segurança.
Uso exige indicação médica e acompanhamento contínuo
As especialistas reforçam que o uso dessas medicações deve ocorrer exclusivamente com prescrição médica, após avaliação individualizada. A obesidade é uma doença crônica, sem cura definitiva, e o tratamento precisa ser contínuo, semelhante ao controle da hipertensão ou do diabetes.
A interrupção do uso, sem mudanças de hábitos, geralmente leva ao reganho de peso. Por isso, o tratamento deve estar associado à reeducação alimentar, prática regular de atividade física — especialmente musculação, para preservação da massa muscular — e, em alguns casos, acompanhamento psicológico.
Quem pode usar e como identificar a obesidade
O tratamento é indicado para pessoas com obesidade, sobrepeso associado a doenças metabólicas, diabetes tipo 2, gordura no fígado, apneia do sono e outras condições clínicas específicas. O uso apenas por motivação estética ou para emagrecimento rápido não é recomendado.
Uma forma simples de avaliação inicial é o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), feito dividindo o peso pela altura ao quadrado. Valores acima de 25 já indicam a necessidade de avaliação médica, embora outros fatores também precisem ser considerados.
Outro parâmetro importante é a relação entre a circunferência da cintura e a altura. A orientação é que a medida da cintura seja menor que a metade da altura da pessoa. A gordura abdominal, especialmente a visceral, é a que mais aumenta o risco de doenças cardiovasculares, AVC e alguns tipos de câncer.

Foto: Sarah Pessoa / Palotina 24 Horas
Efeitos colaterais e riscos do uso inadequado
Mesmo quando usados corretamente, os medicamentos podem causar efeitos colaterais, principalmente gastrointestinais, como náuseas, constipação, azia e diarreia. Em situações de uso inadequado, os riscos aumentam e podem incluir desidratação, perda excessiva de massa muscular e alterações da função renal.
Cada organismo responde de forma diferente, o que reforça a necessidade de acompanhamento médico contínuo e ajustes individualizados.
Região de fronteira acende alerta para medicamentos ilegais
Na região de fronteira, cresce a entrada clandestina de medicamentos sem registro no Brasil. Além da falta de controle sobre a composição, esses produtos exigem cadeia de frio, com armazenamento refrigerado desde a fabricação até a aplicação.
O transporte irregular compromete a eficácia e aumenta os riscos à saúde. Análises já identificaram misturas de substâncias desconhecidas em produtos ilegais, o que torna o uso especialmente perigoso por se tratar de medicamentos injetáveis.
Atenção antes de cirurgias e procedimentos
Outro alerta importante é para pacientes que utilizam essas medicações e precisam passar por cirurgias ou exames com anestesia. Como os medicamentos retardam o esvaziamento gástrico, podem aumentar o risco de broncoaspiração.
Por isso, é fundamental informar o médico antes de qualquer procedimento para que o uso seja suspenso temporariamente, quando indicado.
Mensagem final das especialistas
As médicas destacam que as canetas representam um avanço importante no tratamento da obesidade, trazendo melhora da saúde e da qualidade de vida. No entanto, reforçam que não existem soluções milagrosas.
O tratamento seguro passa por alimentação adequada, prática de atividade física, acompanhamento médico e uso responsável de medicações aprovadas, sempre respeitando o próprio corpo.
Redação Palotina 24 Horas
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