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C.Vale suspende temporariamente exportações de tilápia após tarifaço dos EUA

Com sede em Palotina, a C.Vale interrompeu os envios aos Estados Unidos após nova taxação. Palotina, Nova Aurora e Assis Chateaubriand concentram 85% da produção de pescado do Paraná.

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97% das exportações de tilápia paranaense são para os Estados Unidos — Foto: Reprodução/TV TEM

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Economia – A exclusão do setor de pescados brasileiros da lista de exceções ao tarifaço dos Estados Unidos, oficializado pelo presidente Donald Trump na quarta-feira (30), levou à suspensão temporária das exportações de tilápia pela C.Vale, a maior cooperativa do setor no Paraná. A confirmação da taxação para a psicultura acendeu o alerta entre produtores e novos mercados estão sendo procurados pela cooperativa.

Com as novas taxações, a exportação de pescado para os EUA fica completamente inviável, não podemos arcar com essas tarifas. Vamos absorver esse impacto dentro da cooperativa e tentar não prejudicar os produtores, com isso, teremos uma redução no nosso resultado”, afirma Reni Girardi, diretor industrial da C.Vale.

A decisão dos EUA afeta diretamente o Paraná, uma vez que 97% da tilápia exportada pelo estado vai para os Estados Unidos, segundo levantamento da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). A cadeia é composta majoritariamente por produtores familiares e, segundo o setor, ainda está em fase de consolidação.

É uma atividade com forte presença da agricultura familiar e altamente endividada. Muitos produtores buscaram financiamento para adaptar suas propriedades às exigências sanitárias, técnicas e trabalhistas”, afirma Edmilson Zabott, presidente da Comissão Técnica de Aquicultura da Faep e do Sindicato Rural de Palotina, no oeste do estado.

A região oeste do Paraná, especialmente os municípios de Palotina, Nova Aurora e Assis Chateaubriand, responde por 85% da produção estadual, com 180 mil toneladas de pescado por ano, segundo a Faep.

A C.Vale informou que possui 20 contêineres de tilápia a caminho dos EUA. Conforme a regra oficializada por Trump, produtos que chegarem ao país até 5 de outubro não serão taxados. A partir de 6 de agosto, porém, os peixes estarão sujeitos a uma tarifa adicional de 40%, somada à já existente de 10%.

Segundo Fábio Mezzadri, técnico do Departamento Técnico e Econômico da Faep, mesmo antes da oficialização por Trump, a interrupção dos abates já causava prejuízos.

Calculamos que pelo menos 15 toneladas de pescado deixaram de ser abatidas por dia em uma das principais cooperativas. Isso representa uma perda de cerca de R$ 4 milhões em um curto período.”

Dependência dos EUA preocupa setor

Dados da Faep mostram que, em 2024, os Estados Unidos foram destino de 89% das exportações brasileiras de piscicultura, totalizando US$ 52,3 milhões.

O Paraná respondeu por 64% desse valor, com US$ 35,7 milhões, e foi o maior exportador nacional de tilápia. Entre 2023 e 2024, o estado registrou aumento de 94% na receita e 68% no volume exportado.

O peixe paranaense chega em 48 horas nos Estados Unidos. Era um mercado em franca expansão, que estava pagando bem pelo produto”, explica Mezzadri.

Psicultura pede socorro ao governo

A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) protocolou, em 21 de julho, um pedido formal ao Governo Federal para criação de uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões, com seis meses de carência e 24 meses para pagamento. O objetivo é amparar indústrias exportadoras e evitar demissões em massa.

Caso não haja uma resposta rápida, 35 indústrias e cerca de 20 mil trabalhadores, incluindo pescadores artesanais, podem ser impactados com cortes e paralisações”, alertou a associação em nota.

A Abipesca também pede que o governo intensifique negociações para reabrir o mercado europeu, fechado desde 2017 às exportações brasileiras de pescado.

Crescimento em risco

A Faep avalia que as tarifas interrompem o ciclo de expansão da piscicultura nacional. Em 2024, as exportações do setor cresceram 138% em valor, chegando a US$ 59 milhões, e 102% em volume. Foi o primeiro avanço em volume desde 2021.

Com a perda do mercado norte-americano, o setor agora busca alternativas.

Precisamos de uma campanha para que o mercado interno absorva esse pescado. Mas não há nada definido. O impacto já é enorme”, conclui Mezzadri.